À conversa com Rui Barros



"Gostava de viver do que escrevo..."

Estudante da Escola do Agrupamento Pintor José de Brito publicou Asterisco, o seu primeiro livro de poesia, aos 17 anos e falou à turma do 8ºA sobre a sua atividade literária.

Turma do 8º A - Como é que nasceu a sua vontade para a escrita de poemas?
Rui Barros- Eu passei a maior parte da minha infância com o meu avô, e ele tinha por hábito contar histórias a que todos nós estávamos habituados, ou seja, aquelas lendas das aldeias. Ele era bastante culto nesse sentido. Acho que foi aí mesmo que começou o meu bichinho pela escrita e por compor versos, pois sofri a influência do meu avô. Depois como a adolescência é uma série de transformações, também esses acontecimentos me estimularam. Acho que, nesse sentido, comecei a escrever um bocado mais para desabafar um pouco. Acho que é assim que nasce a minha vontade de escrever.
T- Em criança, já tinha esta vontade de escrever poemas ?
R.B- Eu tentava, agora, também depende da tua definição de criança. É verdade que quando andava na primária, quando era mais novo, a professora dizia:
- Vamos compor uns versos e não sei que mais. (Os meus textos) não eram nada parecidos com os do meu livro, mas é verdade que eu tentava escrever algumas coisas. Não era nada de espetacular, mas, sim, tentava...
T- Como é que concilia a sua vida escolar com a sua vida literária?
R.B- Confesso que, às vezes, é complicado, porque é difícil . Por exemplo, no meu caso, estou num curso de ciências e tecnologia, sendo estas duas áreas completamente opostas. É muito complicado ter que estudar uma matemática que é aquela « coisa » de que gostamos imenso (risos), não é uma química e depois fora desse tempo de estudo, ter que fazer aquilo que eu, realmente, gosto. O dia tem 24 horas, e nós temos de saber aproveitar esse tempo.
T- Por que motivo escolheu o nome " Asterisco " para o seu primeiro livro?
R.B- Não sei se leste o meu livro, mas lá faço questão de mencionar isso na nota introdutora. Chamei-lhe Asterisco, primeiro, porque achei muito engraçado e depois porque acho que aqueles poemas que eu ia escrevendo, estão muito longe da perfeição. Por sermos um ser imperfeito é que escrevi este Asterisco, como um complemento para ver se conseguia aperfeiçoar a minha imperfeição. Não sei se me faço entender? Bem, foi só por causa disso que lhe chamei Asterisco. Para além disso, no livro, aparece uma série de asteriscos nas páginas, junto aos poemas, onde informo sobre a data, a hora, o momento e a música com que escrevi aquele poema, porque acho que é interessante para o leitor também o que é que influenciou, naquele momento, o processo criativo.
T- Em que se inspirou para escrever os poemas do livro?
R.B- Para te dizer a verdade, nunca me inspirei. Vamos pensar naquela pessoa e vamos escrever um poema. Não, não é assim que acontece. Fernando Pessoa já dizia que um poeta era um fingidor . É um bocado aquilo que acontece naquele livro, porque quem o lê pensa que um homem é um "coitadinho" , porque ele diz tão mal da vida e não sei que mais, e a vida está cheia de problemas. E é verdade! Eu sou fixe, aliás às vezes, considero-me fixe. Depois há certos momentos na vida que nos motivam. Por exemplo, há um caso específico num poema que aparece ali que foi no dia em que uma amiga minha teve um acidente. A irmã do Diogo Silva teve um acidente e aquilo fragilizou-me um bocado e conduziu-me à escrita para desabafar. É assim que acontece. Não penso numa pessoa em específico.
T.- Como se sentiu ao receber o prémio dos "Jovens irrequietos" dos CTT?
R.B.- Eu acho que, quando as pessoas reconhecem o nosso mérito, é bom. Quando concorri, não concorri com o objetivo de ganhar isto. Concorri apenas para ver o que ia acontecer. A verdade é que as pessoas que visitaram o site votaram no meu texto e foram comentando, até algumas pessoas que estavam mais no universo literário "apareceram por lá" e comentaram. Depois foi bom ter sido escolhido pelo júri na categoria de escrita. Enfim, acabou por ser bom, mas os prémios só são somente isso.
T.- Pretende dar continuidade à sua atividade literária ?
R.B.- Claro (risos), claro que sim. Espero que este livro seja o primeiro de muitos. Vou continuar a escrever. Isso é certo. Eu gostava mesmo de viver disto, gostava de viver do que escrevo, mas sabemos que o nosso país não está grande "coisa", e sabemos que é um bocado complicado viver do direitos de autor e dos livros. Agora, vou ter de conciliar isso com outra carreira profissional.
T.- Quais são os seus autores favoritos?
R.B.- Gosto muito de José Saramago, que foi o Nobel, e continuo a admirá-lo pela pessoa, que era e que ainda é. Ele é mesmo aquela pessoa que eu mais gosto como português e que eu mais gosto a nível da escrita, mas ainda há outros no panorama literário.
Gosto bastante do escritor japonês Haruki Mukarami que também é dos meus prediletos. Acho que o autor vale pelo livro e por aquilo que escreve e não pelos prémios que ganhou, por isso, não tenho um autor que diga "aquele é o meu favorito", mas tenho alguns. E podia estar aqui a falar bastante tempo...
T.- Qual foi o livro que gostou mais de ler?
R.B.- Isso é complicado por duas razões: primeiro, acho que não estamos muito habituados a ler poesia, nem as livrarias investem na poesia, e isso reflete-se também um bocado nas vendas. Por exemplo, vocês vão a uma FNAC e estão mais habituados a encontrar aqueles best-sellers ou prosa somente, porque é raro encontrar poesia. Por isso, eu comecei a ler poesia numa fase tardia da minha vida. Confesso que gosto daqueles poetas que são mais conhecidos. Adoro Fernando Pessoa. O livro de que mais gostei foi "Gaveta de Papéis" de José Luís Peixoto, que foi reeditado.
T.- O que é que faz nos seus tempos livres?
Acho que a mesma coisa que toda a gente faz (risos). Gosto bastante de ouvir música rock e saio, principalmente, com os meus amigos, mas, às vezes, prefiro ficar em casa a escrever. Isso é uma opção (risos).

Sem comentários:

Enviar um comentário